Paraná é o único a produzir soro específico contra acidentes causados por aranhas-marrons 30/07/2018 - 16:10

O Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos (CPPI) do Paraná é o único laboratório do país a produzir soro específico contra acidentes causados por aranhas-marrons, animal peçonhento perigoso cuja picada pode levar à morte. O soro produzido no Paraná é distribuído pelo Ministério da Saúde para todo o Brasil. Para manter a produção do soro contra a picada de aranha-marrom e outros animais peçonhentos, incluindo serpentes como as jararacas, o CPPI mantém 74 cavalos.

O diretor do CPPI, Sérvio Túlio Stinghen, explica que os animais usados na produção dos soros são selecionados e mantidos com todo o cuidado e atenção. Os animais devem ter entre 4 e 8 anos e pesar entre 400 a 500 quilos. Eles são criteriosamente avaliados durante cerca de dois anos antes de participarem do processo de produção do soro. “O valor dos nossos animais é inestimável. Eles são parte de um grande processo que salva vidas e tem impacto direto na saúde da população”, diz Stinghen.


O veterinário do CPPI, João Carlos Minozzo, ratifica que os animais recebem cuidados especiais. Eles são vacinados, bem alimentados e, além de nomes, todos têm um microchip de identificação. “Uma vez comprados, os cavalos ficam conosco durante toda fase produtiva, que gira em torno de 15 anos. Depois desse período, eles são realocados para uma área de descanso, onde podem aproveitar da ‘aposentadoria’”, brinca o veterinário.

PRODUÇÃO – A produção do soro começa com a coleta das aranhas. Uma equipe especializada do CPPI vai até o local onde podem ser encontrados os animais peçonhentos – geralmente embaixo de telhas, entulhos, quadros, armários, entre outros – e realiza a captura. O veterinário do CPPI, Bruno Cesar Antunes, ressalta que o trabalho dos profissionais é de extrema importância, porque sem a coleta dos aracnídeos, não é possível produzir o soro.

Ao chegarem ao Centro, as aranhas passam pela etapa de triagem e armazenamento. “Depois de retirar o veneno, ele é processado e posteriormente é misturado com uma solução para ser aplicado nos cavalos. A mistura faz com que sejam produzidos anticorpos em grande quantidade, por mais tempo e sem maiores consequências para os equinos”, informa o veterinário. Após esse processo, são coletadas bolsas de sangue dos cavalos. Essas amostras ficam em refrigeração por até 24 horas. “Durante este período, os componentes do sangue se separam. As células vermelhas irão para o fundo da bolsa, enquanto o plasma, onde são encontrados os anticorpos, fica por cima. É este líquido que será enviado para produção do soro”, finaliza Bruno Cesar Antunes.

NÚMEROS – Em média, são retirados seis quilos de sangue de cada cavalo, sendo quatro quilos apenas de plasma. Um quilo de plasma pode produzir de 15 a 17 ampolas de soro, quantidade equivalente ao tratamento de uma pessoa que tenha sofrido acidente de moderado a grave por aranha-marrom. Durante um ano, cada animal produz plasma suficiente para a fabricação de aproximadamente 600 frascos de soro, salvando cerca de 50 pessoas.

Secretaria da Saúde alerta contra acidentes com aranhas-marrons

Com a volta das temperaturas mais baixas, as roupas e outros objetos guardados no armário podem servir de esconderijo para aranhas. No Estado, o aracnídeo é encontrado com maior frequência em Curitiba e Região Metropolitana, regiões de Irati, Ponta Grossa, Guarapuava, União da Vitória, Pato Branco e Jacarezinho. Só no ano passado, foram 4.133 casos de acidentes com o animal no Paraná. As teias produzidas pela aranha-marrom são irregulares, com aparência de algodão esfiapado. Sua dieta é baseada em pequenos animais como o tatuzinho e principalmente insetos, como formigas, pulgas, traças e preferencialmente cupins.

ACIDENTES – As aranhas-marrons possuem hábitos noturnos, quando saem à caça de seu alimento. Nesse momento podem se esconder em roupas, toalhas, roupas de cama e calçados. Por esse motivo, é preciso sempre prestar muita atenção antes de calçar os sapatos e vestir roupas. No ato da picada, na maioria das vezes não há dor. Mas cerca de 12 horas depois ocorre um inchaço na região afetada e febre.

As alterações locais mais comuns são: dor em queimação, vermelhidão, mancha roxa, inchaço, bolhas, coceira e endurecimento da pele. Outras manifestações podem ocorrer dias após o acidente, como necrose, dor de cabeça, mal-estar geral, náusea e dores pelo corpo.

Caso ocorra algum acidente com o aracnídeo, a vítima deve procurar o quanto antes a Unidade de Saúde mais próxima. Se possível, levar a aranha causadora do acidente para auxiliar na rapidez do diagnóstico.

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